As folhas começam a secar e a cair. As colheitas foram feitas. A roda girou. Mais uma vez o Outono se faz presente. Na noite fria e escura a Senhora dos grãos fez-se presente. Diante de Deméter os ritos foram feitos, os nomes queimados e as sementes escolhidas. Mais uma vez a roda girou, mais uma vez as folhas caem e mais uma vez os Mistérios se fazem presente. Entretanto dessa vez nada é igual, tudo é diferente. As certezas de antes viraram pó. Agora reina a incógnita diante do retorno dos Deuses à Gaia.
Mais uma vez a roda gira. Só que agora é diferente, ao mesmo tempo em que é assustador é loucamente especial. Sou um espirito velho em um jovem corpo. Tenho um espirito leonino com a alma de escorpião. Já vivi muito pelos e para os Deuses. Já matei e já morri por e para eles. Não temo o desconhecido, não temo a noite fria na floresta escura, pois sou capaz de tudo pelos Deuses; a mais divina qualidade que beira a loucura. Mas o que é a loucura senão o mais profundo abismo de nossas almas. Não temo o abismo de minha alma. Assim como Perséfone jogou-se ao profundo Reino de Hades para encontrar o que é o amor e o que é a vida, não temo as consequências de minhas escolhas. Não digo que estou pronto, pois nenhum de nós está pronto para esse amanhecer. O Amanhecer dos Deuses novamente em Gaia. Aqueles que outrora partiram do planeta útero novamente pisam nesse solo.
Já vivi muita vidas para e pelos deuses, entretanto nessa vida trago o espirito revolucionário e suicida. O mesmo espirito que pode me levar ao ápice das montanhas próximas ao Olimpo é o mesmo espirito que pode me levar aos profundos abismos do Reino de Hades. Quando nasci um templo formou-se sobre mim, um templo que me deu bênçãos e maldições. Bênçãos que fazem com eu um reles aprendiz tenha a presença do Conselho dos Anciões comigo, a guarnição dos meus quatro guardiões, a presença do meu cão negro e de minha mãe Rainha das Encruzilhadas e dos caminhos entre os mundos. Benção que faz com que eu vá até o Templo de Mármore e tenha a presença dos antigos comigo. Porém ao mesmo tempo, eu trago a maldição de fazer loucuras que comprometam o meu bem estar e minha saúde pelo Sagrado. Mas não temo a dor de uma lamina quente sobre minha pele, pois dor nenhuma é maior que a traição de um irmão e aliado.
Não me arrependo das minhas escolhas, pois em nosso caminho não existe arrependimento e perdão. Tudo é questão de escolha. Não fico prezo a um livre arbítrio, pois em nosso caminho ele não existe. Pois quanto mais se sabe quanto mais se conhece, sabe-se que o caminho é único. Depois que entramos nele não ha como voltar. As escolhas são de como percorrê-lo, mas de uma ou outra forma ele deve ser feito. É um caminho que podemos escolher ao tempo todo, que sementes plantar, mas somos obrigados a colher os frutos de nossas escolhas. Se plantarmos mentiras, e regamos com falsidades e traição o desprezo é o mínimo a ter como retorno.
Estou em uma jornada para descobrir minha identidade, uma jornada de aprendizado de busca do meu Eu, mas ao mesmo tempo uma jornada de convívio com os outros. Paciência e sutileza são qualidades a serem lapidadas, entretanto a sinceridade é um tesouro precioso que possuo, mas são poucos que compreendem o seu valor. O caminho do sacerdócio não é um caminho para mentiras e mascaras, pois elas logo caem. É um caminho de humildade e de sacro-ofício aos deuses. Não me vergonho de servir ao templo de minha tribo, pois aquele que não é humilde para reconhecer a importância da servidão aos deuses não é digno da presença dos mesmos em suas vidas.
Sou um guerreiro no eterno equilíbrio da balança entre a sabedoria e justiça da criação e o caos da destruição. No equilíbrio entre o justo revolucionário e o louco ditador. Já lutei e guerreie muito pelos e para os Deuses. Mais uma vez sou um Guerreiro de Gaia, mas diferente de outros tempos não vim para cortar cabeças, e sim fazer uma luta entre mundos. Não pertenço nem a luz e nem as sombras. Assim como minha mãe sou um ser dos caminhos e meios. Sou imortal, que não teme a noite fria e escura, pois sei que o Sol da Aurora estará presente no próximo amanhecer. Mas sei que como a luz pode me segar as sombras revelam quem realmente sou.
Que a roda gire, que as provas venham, que o frio e a escuridão cheguem. Pois somente aquele que se entrega ao seu abismo é merecedor de voltar vivo e vitorioso da floresta escura. Pois como um bom Imortal sei que agonizar não é morrer e que somente os Bem Aventurados são merecedores do acalento da chama da Grande Mãe Serpente.